O começo da Era Digital já está virando peça de museu. Pela primeira vez na Europa, um Museu da Informática abre as portas para contar como os primeiros computadores evoluíram de grandes e pesadas máquinas que desenvolviam apenas cálculos matemáticos, no início do século 20, até os notebooks de hoje, que podem pesar menos de um quilo e ao mesmo tempo armazenar dezenas de gigabits em dados.
Não foi fácil para Philippe Nieuwbourg convencer o meio cultural de Paris de que a hora de abrir um museu de informática havia chegado. "Passei cinco anos tentando todo o tipo de contato possível, mas todo mundo dizia que as palavras museu e informática simplesmente não combinavam", recorda. Apaixonado por Internet, ele decidiu então apresentar o projeto à iniciativa privada e no ano passado conseguiu nada menos do que o último andar do Grande Arco de la Défense, o monumento-símbolo do bairro mais moderno da capital francesa, para apresentar uma exposição.
Atmosfera mais perfeita para falar da história da Era Digital, impossível. "Comecei com a exposição de um acervo pessoal e na medida em que a idéia foi se disseminando, pessoas e empresas do mundo todo me procuraram para negociar aparelhos antigos", lembra. O sucesso de 250 mil visitantes foi suficiente para convencer os proprietários do espaço a abrigar definitivamente o museu. Até então, apenas os Estados Unidos dispunham de um museu do gênero.
Inaugurada na semana passada, a coleção permanente de quase 300 peças é capaz de detalhar passo-a-passo da história digital ao longo de um século. A mostra se inicia pelas calculadoras mecânicas industriais, com cerca de 14 quilos cada e que, a partir da década de 40, passaram a ser alimentadas por lâmpadas. Com a eletricidade, eram capazes de realizar cálculos mais complexos até que durante a Segunda Guerra Mundial os serviços de informação do Eixo e dos Aliados desenvolveram equipamentos que gravavam dados criptografados. Era o início dos editores de texto.
Na época, um computador era alimentado por 70 mil lâmpadas internas e pesava em média 27 toneladas. Após a guerra, os norte-americanos perceberam que aquele poderia ser apenas o começo de uma mina interminável de descobertas e decidiram investir a fundo na informática. Na década de 50, criaram os primeiros computadores, tão pesados e incipientes que ocupavam uma sala inteira para apenas uma máquina. "Cada armário correspondia ao que hoje é um circuito. Um armário era o disco rígido, outro captava informação, outro a processava e um quarto a imprimia", explica Nieuwbourg, um ex-jornalista e viciado no assunto. A impressora funcionava por meio de um esquema interno de mini-martelos, que batiam na letra desejada e assim transmitiam o dado do computador para o papel. "Era um barulho ensurdecedor. Hoje quando alguém reclama da sua impressora barulhenta é porque não consegue imaginar como o simples fato de imprimir era um pesadelo no início da informática."
A partir de então, o tamanho e o peso dos computadores foi diminuindo ano após ano. O disco rígido - que era, literalmente, formado por discos já conseguia guardar 7 Mb no início dos anos 70. Os norte-americanos lideravam no desenvolvimento de novos produtos, mas foi um francês, François Gernelle, quem inventou o Micral, o primeiro micro-computador com finas placas de silício para armazenar os dados, em 1971.
Em 1973 foi criado o americano Osborne, o primeiro computador portátil - embora seus 12 quilos da época não permitissem muita mobilidade. "A idéia era de agrupar toda a sala de informática de 10 anos antes em um só aparelho móvel. Ele não tinha nem bateria, nem disco rígido, mas na época era uma revolução."
Até então, os computadores ainda eram um produto restrito às universidades e aos serviços de informação dos governos, mas menos de dez anos depois, em 1981, a IBM lança o primeiro computador comercial. Dois anos após, a Apple cria uma tela que possibilita recursos gráficos - até o momento, os computadores geravam apenas letras e números e não imagens. Foi quando as famílias começaram a se interessar pela máquina, impulsionando o lançamento de modelos mais baratos como o IBM que registrava as informações em fitas K-7 convencionais. "A confiabilidade era quase nula", brinca Nieuwbourg. "Mas ter um computador começava a ser sinal de status social." Nesta época, um computador comercial não saía por menos de R$ 40 mil.
No início da década de 90, os primeiros sinais de Internet começam a aparecer, quando os computadores passaram a realizar ligações telefônicas. De lá para cá, o sistema só evoluiu cada vez mais rápido até que,, recentemente, foi lançado o primeiro computador portátil sem disco rígido.
"Queremos também dar uma idéia de para onde vamos na informática. O plano do museu é mostrar o passado, o presente e o futuro", explica o fundador do estabelecimento. "Não duvido que daqui a cinco anos as telas sejam projetadas no ar, como no filme Minority Report. A tendência é de que a informática se transforme em uma coisa menos eletrônica e mais humana, com toques e gestos reais", aposta Nieuwbourg.
Outras duas salas de exposições temporárias completam as atrações do museu. A primeira mostra a história do surgimento da Internet e a segunda apresenta obras artísticas desenvolvidas pelo designer Stéphane Mathon. O museu está aberto todos os dias da semana das 10h às 19h.